qui, 28 de março de 2024

Aplateia Digital | 23 e 24.03.24

Última Edição

A Chama da Tradição

Acendimento da Chama Crioula na casa onde Paixão Côrtes marcou a Semana Farroupilha 2020

Um setembro silencioso, sem o som das guitarras e das acordeonas ecoando pelos bailes Rio Grande afora, os galpões e CTGs ficaram solitários sem os gaúchos bem pacholas e as prendas bem faceiras com vestidos floridos enchendo de cores o pampa que se estende. Sem cavalos e cavaleiros pelas ruas ostentando o amor pela querência em cada esquina, em cada palmo de chão, sem campeiros bem pilchados de bombacha larga e tirador, faca “buena” na cintura e olhar firme com uma éguada por diante nalgum fundo de corredor no destino mais sagrado de desfilar no 20 de Setembro com galhardia e valentia, cultuando a tradição e o seu valor. Um setembro onde as poesias e trovas ficaram emudecidas, guardadas bem no fundo do peito e na memória calada dos trovadores. As canchas de rodeio ficaram vazias onde, outrora, a gaúchada se reunia em largas rodadas de tiro de laço mantendo a herança pampeana dos centauros desta terra, sem o retinir das esporas entre corcovos das gineteadas com gritos de “à la pucha” e os baguais não mais desafiaram a habilidade dos domadores.
Mas aos poucos, este silêncio que pairava no pampa largo foi quebrado pelos cascos dos cavalos vindos do horizonte na região do Cerro Chato, em Sant’Ana do Livramento, por entre as torres eólicas que trouxeram os ventos do desenvolvimento, 15 cavaleiros emponchados na manhã fria marchavam como um pelotão farroupilha rumo ao fronte de batalha. Bandeiras tremulando ao vento, sob os chapéus de abas largas rostos mascarados rumaravam para a antiga morada para reviver a infância de um certo Paixão que nos tempos de antes brincava com a tropa de osso de seus recuerdos.
Bem ali, no Rincão dos D’Ávilas, permanece erguida ainda, a antiga moradia, hoje, tapera, onde o gaúcho santanense que tinha Paixão pelo Rio Grande passou parte da sua infância foi o local escolhido para reacender a chama crioula que marca o início dos festejos farroupilhas. Ao redor dos umbus centenários e das sombras copadas dos plátanos, uma cerimônia cheia de ativismo e sentimento pátrio fez ressurgir o fogo simbólico com sua chama dançarina que a todos os olhares encanta. Do dia 14 ao dia 20 de Setembro a chama da tradição segue acesa para manter viva a esperança que os dias que virão serão muitos melhores e quem sabe, em breve, todos poderão tirar as máscaras e gritar com orgulho no peito e com emoção na voz: Viva a República Rio-Grandense! Viva mais um 20 de Setembro!