qui, 28 de março de 2024

Aplateia Digital | 23 e 24.03.24

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‘Vivi 24 anos com uma pessoa dentro de casa que não conhecia’, diz mulher que sofreu tentativa de feminicídio em Lajeado

Lisete Maria Steinke Heissler foi atacada pelo ex-companheiro, mas conseguiu chamar a polícia. Ele cometeu suicídio logo após o crime.

Os frequentes casos de feminicídios preocupam as instituições de segurança e a sociedade no Rio Grande do Sul: dados de janeiro mostram que a quantidade de mulheres mortas triplicou em relação ao mesmo mês do ano anterior. A história da diarista Lisete Maria Steinke Heissler, no entanto, teve um final diferente.

Vítima de uma tentativa de feminicídio no último dia 4, em Lajeado, no Vale do Taquari, Lisete conseguiu se esconder do ex-companheiro. O homem se matou após disparar três vezes contra Lisete. Ela ficou internada até o último domingo (9) e teve alta.

“Eu vivi 24 anos com uma pessoa dentro de casa que eu não conhecia. Jamais eu ia imaginar ele fazer isso”, conta.

Lisete afirma que até 2018, o ex-marido não apresentava sinais de violência. “Ele era boa pessoa, até aquele último ano, que ele começou a mudar”, comenta.

O comportamento passou a ser agressivo, em palavras. As discussões se tornaram frequentes. Foi quando, em novembro do ano passado, ela resolveu sair de casa.

“Ele vinha aqui, tomava chimarrão com a gente. Aí outro dia vinha de novo e ficava explosivo. ‘Eu vou te matar’, ele dizia para mim. ‘Se tu acha que tu vai ficar com outra pessoa, tu tá enganada porque é comigo que tu vai viver senão nós dois vamos morrer'”.

A ameaça mais grave foi em 23 de janeiro deste ano, quando o homem invadiu a casa onde Lisete mora e tentou matá-la com uma faca.

Ela conseguiu convencê-lo a ir embora e registrou boletim de ocorrência, pedindo medida protetiva, que foi concedida pela polícia. Doze dias depois, o homem foi atrás de Lisete novamente.

Ele a surpreendeu no portão da casa onde a mulher trabalha há 12 anos. Mostrou a arma e disse que iria matá-la. Lisete correu para dentro da casa, trancou a porta, se escondeu no guarda-roupa de um dos quartos e ligou para a Brigada Militar.

“Ele conhecia toda a casa, o que tinha, o que não tinha. Então, ele saiu a minha procura e me achou. Quando ele me achou, disse ‘tu sai daqui senão te mato aqui dentro'”, recorda a mulher.

“Eu disse para ele ‘nós temos dois filhos lindos e eles vão precisar muito de nós’. Daí ele disse ‘não, esses filhos já estão grandes, se viram sozinhos'”, afirma.

O ex-marido ainda tentou convencer a mulher a pedir para a polícia não ir até o local, mas a Brigada chegou antes. Enquanto ela caminhava em direção à porta, foi atingida por três disparos, pelas costas.

“Ainda vi ele cair do meu lado. Eu pensei ‘ele se tirou a vida, só que eu tô viva’. Eu gritava por socorro para o pessoal da Brigada entrar”, afirma.

Foram cinco dias internada no hospital. Agora, está de volta em casa, e com planos de recomeçar, após sobreviver a uma tragédia.

“Uma vida nova, tudo novo!”, conclui.

Fonte: G1/RS

Foto: Reprodução/RBS TV